Importância dos objetivos das tarefas na segunda infância
A segunda infância não se caracteriza apenas por ser uma fase de integração dos elementos fundamentais, mas também é o período do qual está ocorrendo um grande desenvolvimento do SNC, tornando-se então o período adequado para trabalhar elementos que estejam ligados a este desenvolvimento. Fleishman (1964) separa as capacidades, sendo algumas consideradas de proficiência física e outras perceptivo-motoras. As de proficiência física são importantes e foram trabalhadas nas nossas aulas, como por exemplo, equilíbrio, velocidade de deslocamento e de reação e principalmente a flexibilidade que além de ser de grande importância para a realização da GACRO e da GR é uma capacidade que tende a diminuir com a maturação sexual. Mas as perceptivo-motoras são ainda mais importantes porque estão totalmente associadas ao desenvolvimento do SNC e de forma geral são as capacidades coordenativas, que também precisam ser desenvolvidas nessa fase, porque com a chegada da puberdade tende a diminuir, assim como afirma Leite (2002):
[...] vários estudos citados por Meinel e Schanabel (1984) revelam um consenso quanto ao fato de que essa diminuição ou interrupção no desenvolvimento de habilidades de coordenação ocorre no início da época da maturação sexual ou pouco depois, e tendem a melhorar à medida que o indivíduo avança para o completo amadurecimento.
Segundo Pellegrini (2003), a segunda infância é caracterizada por aumentos lentos e estáveis na altura e no peso, mas por um progresso em direção à organização do sistema sensório-motor. Roth (s/d) afirma que o desenvolvimento da coordenação e aprendizagem de habilidades, deve ocorrer prioritariamente na idade entre 7 a 11/12 anos para meninas e entre 7 aos 12/13 anos para os meninos, sendo considerado a fase do desenvolvimento linear, ou fase da “idade de ouro”. Ela também afirma que habilidades motoras que integram as percepções e as ações desenvolve a coordenação e torna-se necessário o trabalho de tais práticas, pois caso contrário às crianças não adquirem mecanismos básicos como identificar estímulos relevantes para uma ação e identificar estrutura temporal e espacial para organizar padrão motor adequado para a tarefa, além de que ela afirma que “a coordenação assume papel primordial na emergência de novos padrões motores”.
Zimermann (1987) apud Benda (2001) classifica as capacidades coordenativas de uma forma funcional: Capacidade de diferenciação (qualidade do movimento com economia de esforço), Capacidade de Acoplamento (unir diferentes movimentos do corpo, tornando-os como único, coordenado – sequência correta de execução), Capacidade de reação (velocidade da detecção do sinal e resposta do estímulo), Capacidade de orientação (perceber espaço disponível e atuar nele em todas as possibilidades), Capacidade de Equilíbrio (manter ou recuperar a estabilidade), Capacidade de Câmbio (agilidade, variação sem perder continuidade do gesto), Capacidade de ritmo (adaptação a um ritmo externo, mantendo a importante realização do ritmo interno, como motivação). Todas essas formas de capacidades estão incluídas nas nossas tarefas, como forma de trabalhar tais elementos. O mesmo autor fala das medidas metodológicas para o desenvolvimento da coordenação, que são: Variação da execução de movimentos; modificação das condições externas onde o indivíduo terá que solucionar os problemas de complexidade da tarefa; combinação de várias habilidades motoras; variação nas percepções e logicamente proporcionar trabalho mental de imaginação de movimentos, que proporcionará uma melhor determinação sobre o movimento a se realizar, variando características (criativas) ou aperfeiçoando-as. Todas essas medidas foram adotadas por nós, com o intuito de promovermos não apenas diversão, mas proporcionar implicitamente o trabalho de desenvolvimento das capacidades coordenativas e também a coordenação motora grossa, fina (que contribui significativamente para o processo de alfabetização), coordenação unimanual, bimanual, multimembros, visuo-manual e visuo-pedal além do trabalho de lateralidade (Pellegrini, 2003).
Todos esses fatores estão absolutamente envolvidos com o desenvolvimento do esquema corporal assim como da consciência corporal, pois todos os trabalhos de capacidades coordenativas estão absolutamente ligados aos analisadores ou órgãos sensoriais que também são à base do desenvolvimento do esquema corporal, assim como afirma Barreto (2002) que nos primeiros anos de vida o esquema corporal se estrutura sobre a base do desenvolvimento de componentes neurológicos e de maturação biológica se ligando as percepções exteroceptivas, proprioceptivas e interoceptivas, estabelecendo uma consciência primária sobre localização espacial, consciência de esforço para alguma ação e a posição do corpo no espaço para a ação. Todas essas questões também são de suma importância para o desenvolvimento da percepção espacial que é descrita por De Meuer & Staes apud Araújo (1992. P.36) como “a tomada de consciência da situação do seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e as coisas”. E a percepção temporal que é definida pela Pellegrini como algo que tem que ser despertada e refinada junto ao mundo espacial e define “A percepção temporal vincula-se intimamente à interação coordenada de vários sistemas musculares e muitas modalidades sensoriais. Os termos ‘coordenação-manual’ e ‘coordenação entre olhos e pés’ refletem a inter-relação desses processos”. Gallahue e Ozmuz (2001) apud Pellegrini afirmam que um indivíduo com dimensão temporal bem definida é um indivíduo coordenado.
Portanto, nosso objetivo no trabalho foi contribuir de alguma forma para que nossos alunos pudessem perceber uma nova maneira de ser corpo e de como trabalhar com o seu corpo atrelado ao outro (como nas aulas de GACRO) além de perceber que a manipulação de objetos pode ser atrelada a formas diferentes de trabalho corporal, conhecendo novas possibilidades se divertindo, mas acima de tudo, evoluindo.
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