domingo, 5 de junho de 2011

Dança e Ritmo na GACRO e na GR


Ao decorrer do projeto, vimos a dança e o ritmo constantemente e talvez não pelos componentes tradicionais, mas por muitas questões que são características, que não se fizeram presentes explicitamente, por isso, resolvemos fazer um texto exclusivamente para relembrarmos trechos do trabalho que exemplificam nosso conceito atual do que é dançar e de como o ritmo se envolve nas tarefas, saindo do tradicional da métrica em ambas as situações, mas em um novo contexto que o curso nos permitiu.

O conceito do que é dança ou de como se dança é algo que tem ganhado nova forma em todo decorrer do semestre, sendo que se analisássemos a GACRO e a GR anteriormente, com certeza afirmaríamos que a dança só estava presente em alguns momentos da GR, porém hoje temos uma visão absolutamente diferente.
           A dança não é simplesmente técnica e movimentos já pré-estabelecidos, que só acontecem com música ou com um som medindo o compasso. A dança é algo totalmente singular, é algo presente na cultura humana desde o início dos tempos, que constitui o homem e o revela como um todo, é a expressão, é o movimento em si, desde que ele seja encarado de tal forma (Patrícia Stokoe, 1987). Sendo assim, a GACRO se olhada de forma tradicional, só poderia ser comparada a dança pelo fato de existir movimentos acrobáticos também na dança, sejam em coreografias grupais (street dance), em danças de casais (tango) ou em danças individuais. Porém, a GACRO é dança no que vai muito além das acrobacias em si que já é o produto final, mas ela pode ser associada à dança em algo muito simples como o trabalhado de pega. Constantemente durante todo o processo metodológico, ou nas próprias explicações sobre GACRO mencionamos o trabalho de “pegas” dos alunos, do qual demonstra a importância de saber tocar o companheiro em prol de um bom desempenho acrobático. Mas a dança, na maioria das vezes, também é constituída pelo toque, pelo contato entre as pessoas, o que para muitos traz inibição, mas dentro da GACRO isso é indispensável, permitindo que os alunos possam romper as barreiras da distância e da individualidade, onde praticam esportes que mesmo coletivos, não os aproximam, não permitem o desenvolvimento cinestésico, o contato que aproxima as pessoas, mas a dança proporciona isso, assim como afirma TOLOCKA et col (2006, p. 57) “os dançarinos estão sempre próximos uns dos outros, em situação de contato corporal [...] cada um dá suporte ao outro”. O dançar junto, portanto, consiste em dois corpos desenhando formas e movimentos no espaço como se fossem um, pois a dança pode ser considerada a união de dois corpos dançando como um só. (FRIEDLANDER, 2006). Essas definições são as mesmas se aplicadas a GACRO, pois os alunos interagem com seus corpos formando desenhos, se unindo, quebrando as barreiras de gênero, raça ou porte físico, porque assim como na dança a GACRO permite essa interação. 
            Movimentos dançantes também são característicos das ginásticas, mas na forma tradicional, estão encaixados em coreografias marcadas e métricas do qual, principalmente na GR tem que ocorrer em perfeita sincronia e em passos, como giros e aviões desempenhados de forma perfeita e técnica. Essas são características tradicionais das ginásticas e das danças tradicionais presentes desde a época Renascentista do qual o desempenho era o foco. A sincronia caracteriza a beleza pela visão tradicional, mas hoje entendemos que o trabalho da ginástica educacional libera os praticantes dessa rigidez, permitido execuções livres e criativas (Mérida e Piccolo, 2008) e que encontram, se necessário for, sua própria métrica, como quando em muitas execuções nas aulas os alunos passaram a fazer contagens próprias para se auto organizarem e também organizar o trabalho espaço-tempo com os parceiros.
            França afirma que a GACRO na escola proporciona espetáculo porque potencializa a beleza plástica em exercícios repletos de “cor e som”, além de serem atrativos e cativantes, onde todos possuem um papel fundamental assim como a dança que atrai e desperta a atenção mesmo daqueles que não gostam e dizem que não sabem dançar, sendo dominados pela ritmicidade da música. O ritmo também está presente e não apenas no que se refere à métrica musical. A música é um elemento absolutamente rítmico e que é muito presente nos exercícios de GR principalmente, pois a música é o compasso que mede, que rege a sequência dos movimentos como a manipulação dos objetos. Na GACRO não utilizamos música diretamente, mas os próprios alunos se adequam a um ritmo compatível, medido pelas suas contagens. Mas o ritmo segundo alguns autores, não estão apenas presentes na música:

O ritmo está presente em todas as manifestações da motricidade humana, é algo universal e o percebemos em todos os movimentos da vida. O ritmo e o movimento humano de desenvolvem simultaneamente no tempo e no espaço. Desta forma, confirmamos nossa consideração de que o RITMO é MOVIMENTO, que o MOVIMENTO é RITMO e que ambos estão ligados à percepção temporal, espacial e proprioceptiva. (TIBEAU, 2006).
Se entendemos que o ritmo é movimento, logo concluímos que em qualquer atividade que exista o movimento em questão estaremos trabalhando Ritmo. Nas nossas tarefas procuramos trabalhar a variedade de movimentos, ou seja, trabalhamos ritmo de forma consciente ou inconsciente. Um autor que reforça o trabalho da noção de Ritmo através do movimento é Dalcroze. Ele percebeu que seus alunos ao tocarem piano, ao sentirem a música mexiam as articulações do pescoço, tronco etc. Ele afirma que esses acontecimentos:
[...] levaram-no a pensar que as sensações musicais, de natureza rítmica, apoiam-se sobre músculos e nervos, ou melhor, sobre o organismo como um todo. Desse modo, criou exercícios de caminhadas e paradas, habituou seus alunos a reagir corporalmente à audição de ritmos musicais. Este foi o começo do que chamou de rítmica. (BÜNDCHEN, 2005)

Ele percebeu que o movimento ajudava os alunos a perceber estruturas temporais no espaço, contribuindo para o aprendizado rítmico musical em questão.  O que ocorreu nas atividades de arco, na troca entre eles, ou na atividade de jogar o arco para cima e pegar, foram à percepção da estrutura espaço-temporal, ligados muito mais a atividade neural dos sentidos, pois tiveram que considerar, também o peso e estrutura do objeto, a força que seria aplicada (tato e propriocepção) de forma sincronizada ao movimento, já se fosse uma bola, a tarefa de certo modo seria a mesma, mas com um objeto diferente, a percepção da estrutura espaço-tempo, seria diferente pelo fator de peso da bola, força a utilizar e etc.
Esses fatores ficaram explícitos quando eles tinham que desempenhar as tarefas em dupla, criaram uma contagem sem feedback dos professores, (1,2,3 e já) e enquanto contavam executavam flexão e extensão das articulações do ombro e do cotovelo, demonstrando atividade proprioceptiva na percepção do espaço e com a contagem, percepção temporal. Foi visível após a “descoberta” da contagem em sincronia, a melhor execução da tarefa proposta, demonstrando mais uma vez o Ritmo ajudando no movimento e o movimento colaborando para o Ritmo. Inconscientemente o ritmo também estava presente nas nossas atividades, pois além da sua característica motrícia, segundo Rossete (1992), o ritmo é uma qualidade coordenativa fundamentalmente essencial à sobrevivência do ser humano, pois ritmo é vida, e como tal ele ocorre nas funções orgânicas desse ser, em suas atividades e manifestações.
Portanto, as atividades trabalhadas em nossas aulas contiveram ritmo a todo o momento, sendo trabalhado de forma consciente ou inconsciente, pois como pudemos ver ritmo é movimento, e faz parte da estrutura do ser humano, essencial para sua sobrevivência e convivência. E para a questão: A tarefa desenvolveu ou ensinou ritmo? A resposta é: como um corpo complexo e holístico tanto o desenvolvemos como o ensinamos, pois as estruturas corporais que envolvem ritmo são percepção e capacidades coordenativas, ambas trabalham de forma integrada, sendo impossível valorizar qualquer uma dessas subdivisões, trabalhando todas as estruturas rítmicas dos alunos.



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