Como mencionado na última postagem, estamos em estudos constantes para embasar e fundamentar nossas aulas. O processo ainda não chegou ao fim, mas a fundamentação já havia sido estudada previamente a prática, porém somente agora organizamos nossos pensamentos de acordo com os autores a fim de justificar detalhadamente nosso processo.
Na última postagem, apresentamos nossos alunos e suas respectivas idades, sendo anunciado que nossa escolha havia sido a segunda infância. Então agora apresentaremos algumas características gerais do grupo etário, bem como informações pertinentes para que pudéssemos construir aulas adequadas.
Nós consideramos a segunda infância como uma fase rica, do qual os alunos estão passando por muitas mudanças não apenas no que se refere à área motora, mas a sua totalidade, em fase de maturação total sendo que nessas condições os professores, aqui no caso de Educação Física, tem uma grande responsabilidade como contribuinte desse processo, tendo que buscar maneiras adequadas no processo ensino-aprendizagem para que possa ser um colaborador benéfico nesse processo de desenvolvimento.
Apesar das diversas classificações acerca das faixas etárias, dependendo da área de estudo, existem algumas que consideramos para classificar aquilo que nos corresponde ao período de segunda infância. Gallahue e Ozmun (2003) se equivale da idade cronológica em junção a maturação dos movimentos fundamentais (estabilizantes, locomotores e manipulativos), considerando a segunda infância como Fase Motora Especializada que se subdivide em Estágio Transitório (7 aos 10 anos) e Estágio de Aplicação (11 aos 13 anos), que ultrapassa através da cronologia, sendo que a partir dos 12 anos os indivíduos já são considerados adolescentes. Para Edison de Jesus Manoel (2000), existe uma sequência para o desenvolvimento motor, porém não de forma tão engessada e padronizada, sendo as variáveis mais significativas. Ele considera no mínimo três aspectos: uma ordem de eventos no eixo temporal do ciclo de vida; interdependência entre os eventos; e o fato de que novas etapas envolvem novas propriedades. Ele afirma que a sequência do Gallahue e Ozmun, assim como de Seefeldt (1980) não englobam tal exploração, considerando então que desenvolvimento implica em interações de padrões comportamentais, bem como um processo de desenvolvimento hierárquico, sendo que existem várias formas de hierarquia, mas considerando sempre como ocorre a evolução de complexidade ao longo do tempo. Sua construção não determina necessariamente a idade cronológica, considerando a cronologia através das probabilidades, então considerando que a segunda infância é classificada como a fase dos 7 aos 10/11 anos (Kephart, Gallahue e Ozmun e Piaget) se encontraria em sua pirâmide ‘inacabada’ (já que o desenvolvimento ocorre por toda a vida) como a Fase de Combinação de Movimentos Fundamentais ou como Acoplamento entre intenção e padrão de movimentos. Já na concepção piagetiana do desenvolvimento cognitivo existem quatro fases, e a considerada segunda infância (7 aos 10/11 anos) é denominada Estágio das Operações Concretas (6 aos 10 anos) do qual existe um pensamento lógico e essa razão passa a determinar grande partes das atitudes das crianças.
Segundo dados do IBGE, a segunda infância se equivale hoje a aproximadamente 11% da população geral, sendo que o índice de escolarização do grupo etário de 7 a 14 anos é bem menor na região Nordeste (89,4%) comparada à região Sudeste (95,5%), devido a diversos fatores (clima, nutrição, cultura, etc.), mas principalmente a questões econômicas que são visíveis também nos dados onde o trabalho infantil também é bem elevado no Nordeste (3,2% meninos e 1,1% meninas) comparado ao do Sudeste (0,3% meninos e 0,2% meninas). Esses dados, juntamente com outras interferências, são significativos para a aprendizagem e desenvolvimento dessas crianças, já que tudo ocorre como uma grande rede sistêmica. Sendo assim, sabemos que considerando especificamente as questões concernentes as zonas urbanas, como São Paulo, que é nossa área de atuação, percebemos que tudo influencia no todo. Atualmente é normal muitas mães trabalharem fora, devido às necessidades econômicas e com isso os pais, de forma geral, tendem há ficar menos tempo com os filhos, repassando para as escolas, seja quais forem, à responsabilidade de educar e formar aquelas crianças, onde ocorre um débito muito grande, pois a maioria das escolas não tem condições de atingir tais exigências. Com isso, também percebemos corriqueiramente que com melhores situações financeiras os pais tendem a ocupar seus filhos em diversas escolinhas que proporcionem os mais variados exercícios físicos (natação, judô, balé, entre outros) e muitas vezes essas escolinhas por não saberem como agir adequadamente em seus exercícios prejudicam veementemente o desenvolvimento motor dessas crianças.
Para Gallahue e Ozmun (2001) essa faixa etária caracteriza-se como período do qual deve ocorrer à junção dos elementos fundamentais, assim como o refinamento de tais, porém ele e a tendência desenvolvimentista (TANI et al.,1988; MANOEL,1989 apud Gimenez e Ugrinowitsch, 2002) alertam que o ingresso das crianças de segunda infância em modalidades esportivas específicas tendem a privá-las de diversas experiências motoras que deveriam ser aplicadas em tarefas variadas propiciando o máximo de vivências com diversas combinações, aplicando níveis de complexidade dificultando a tarefa, porém dentro da integração dos movimentos fundamentais para somente depois envolvê-los em tarefas específicas. Essas questões trouxeram grandes dilemas para a construção de tarefa do nosso projeto, pois compreendendo e respeitando a abordagem desenvolvimentista, entendemos que não era cabido ensinar tarefas motoras que pudessem especificá-los de alguma forma, mas também entendemos que nesse contexto é extremamente difícil trabalhar com o novo.
Porém existe uma ressalva a se fazer nesse assunto, pois entendemos que a iniciação ao esporte não é ruim para as crianças, mas deve existir a atenção dos professores de educação Física para respeitar sempre o desenvolvimento das crianças não as limitando, mas contribuindo de forma eficaz para o seu desenvolvimento, assim como afirma Gimenez e Ugrinowitsch:
Essencialmente, a prática desportiva não pode ser considerada maléfica para uma criança de Segunda Infância. O esporte faz parte do patrimônio cultural e representa um meio singular de integração do ser humano na vida em sociedade. Entretanto, as demandas e características da faixa etária não podem ser negligenciadas. Tal fato implica a necessidade de que o profissional de educação física conheça mais profundamente as etapas do desenvolvimento infantil. (2002, p.59)
Sendo assim, buscamos uma tarefa que pudesse ser trabalhada respeitando todas essas características da faixa etária, atrelando os elementos fundamentais de forma a refiná-los em exercícios diferenciados que talvez em sua junção, pudesse proporcionar novidade e complexidade, e encontramos tais características nas Ginásticas Acrobáticas e Rítmicas, sabendo que são consideradas esporte de alto rendimento, mas que tem sua importância ao contexto escolar e ao desenvolvimento da criança se trabalhado de forma coerente, assim como exploraremos a seguir.
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