Após a compreensão das características da faixa etária e de como se aplicar metodologias adequadas na questão geral e de iniciação universal dos esportes para crianças, entendemos através de autores específicos da área de GACRO e GR a prática dessas teorias sendo aplicadas em nossas aulas.
Ginástica Acrobática:
A GACRO é um desporto muito antigo, usado inicialmente como prática de combate pelos militares, entre outras coisas, mas quando empregada ao ambiente escolar promove aos seus praticantes ricas vivências corporais. A ginástica de forma geral tem conceitos técnicos, fazendo-se necessário a perfeição na execução de cada fundamento, mas autores como Stanley (1969), Burton (1977) e Graham (1993) defendem a ginástica para crianças de segunda infância, visando movimentos de uma forma mais livre do que Ginástica tradicional introduzida em um contexto mais competitivo que busca apenas o rendimento. O rolamento na forma tradicional busca que o aluno execute-o para trás ou para frente com uma posição de saída e chegada totalmente padronizada, o produto final no caso seria performance e o processo de aprendizagem se daria no desenvolvimento desta habilidade através da prática, até se chegar a uma certa padronização do movimento, já na Ginástica Educacional o praticante desenvolve o rolamento explorando o corpo de diferentes formas, direções, posições equilibradas e desequilibradas, tentando compreender o uso das mãos e da força no rolamento (Siedentop, Herkowitz e Rink, 1984). Segundo Myriam Nunomura a GACRO desenvolve o domínio do corpo em variadas situações tornando-o mais funcional e eficiente para as demandas do dia a dia da criança. Para Capel (1986) a Ginástica Educacional e de alto rendimento são parecidas no que se referem aos movimentos, ações motoras, por outro lado são muito distintas no que diz respeito a objetivos, métodos de ensino e metas. A Ginástica visando rendimento por enfatizar muito mais o produto final do movimento, é considerada inadequada na educação física elementar e para iniciantes (Wall e Murray, 1990). A Ginástica Educacional proporciona ao professor ajudar seus alunos de uma maneira individual a tornar seu corpo mais funcional o tirando da zona de conforto e propondo desafios que fazem com que a criança aprenda dentro dos seus limites e das suas capacidades.
Segundo Mérida e Piccolo (2008) a GACRO de forma geral trabalha com a formação de pirâmides humanas, acrobacias e elementos de dança. Em um trabalho de performance tais elementos teriam que ser executados com sincronismo e perfeição, diferentemente do que proporcionamos aos nossos alunos, encaminhando-os para iniciação e exploração de movimentos que desencadeassem nessas formações, porém de forma simples e livre. Tais autoras afirmam que a prática da GACRO traz benefícios como aquisição de noções espaço-temporal, esquematização corporal, controle motor, flexibilidade, coordenação, equilíbrio, força, cooperação, autonomia, prazer e confiança e sociabilização, pois em qualquer contexto são exercícios que ocorrem de forma mista, não havendo exclusão por gênero, idade, peso, entre outras. Para a montagem de pirâmides, existem oficialmente três funções: base, o intermediário e o volante. Para tais formações, os professores devem avaliar, assim como no contexto técnico, o perfil do aluno para que possa ser encaixado na melhor formação, respeitando seus limites. Em um treinamento técnico, na GACRO devem conter alguns elementos obrigatórios como exercícios acrobáticos individuais, coreografias exercícios estáticos e dinâmicos, fases de vôo, entre outras coisas, porém em nossas aulas, buscamos trabalhar com alguns desses elementos, porém não tornando rígido em sincronismo ou coreografia, mas proporcionando de forma aleatória, exercícios de acrobacias e equilíbrio trabalhando em duplas ou grupos, bem como exercícios de vôo do chão para o parceiro e vice-versa. Como objetivo de aula de iniciação a GACRO, gostaríamos que através de uma série de exercícios eles pudessem realizar uma singela pirâmide respeitando suas proporções corporais e confiabilidade, por isso aplicamos constantemente exercícios que proporcionassem ao decorrer da aula confiabilidade no parceiro para a execução de monte e desmonte, do qual aprendiam subir uns nos outros por fases de vôo ou não, além do trabalho de pegas (de punho, palmas, dedos, ombros, antebraços, etc.) do qual se posicionam para facilitar a execução dos montes, manutenção e desmontes de forma segura e eficiente. A segurança também é um fator importante e foi extremamente priorizada respeitando a disposição e o interesse de cada aluno para determinado exercícios, não forçando situações que pudessem acarretar em acidentes. Além do mais utilizamos de tablados e colchões para evitar possíveis impactos de queda no chão. Nós professores estávamos sempre atentos na execução de cada exercício, não permitindo que as crianças quando em situações fora do chão, provocassem movimentos que pudessem desencadear em queda. Mérida e Piccolo (2008) ressaltam que as quedas na GACRO são comuns devido às adaptações de ritmo, contatos com os parceiros e a ação da gravidade nas figuras, sendo que tais quedas não podem ser confundidas com acidentes. Por aplicarmos uma aula inicial, a execução das nossas pirâmides, foi realizada de forma simples, onde os base utilizavam de dois apoios ajoelhados para diminuir a altura para a volante, realizando uma pirâmide de solo, onde o apoio do volante está abaixo da linha da cintura dos bases. Criley (1984) apud Mérida e Piccolo (2008) como um dos grandes nomes da GACRO em evolução pedagógica nas figuras nos instruiu partir do simples para o complexo, onde se inicia com pirâmides estáticas de posições baixas e apoios centrais, assim como realizamos com nossos alunos, para posteriormente avançarmos para as posições mais altas de diferentes apoios. Como forma de iniciação da GACRO, buscamos trabalhar com exercícios simples que envolvessem pegada, equilíbrio e noção de peso do parceiro, ainda no solo. Quanto à aplicação metodológica dos exercícios acrobáticos, cabem aos professores respeitar as etapas, onde cada aluno ou grupo poderá se desenvolver em diferentes níveis, porém é importante fazer a aplicação por etapas, ou seja, em blocos para não ocorrer possíveis acidentes.
A GR é considerada uma prática desportiva extremamente técnica e com alto nível de complexidade, pois envolve habilidades individuais e grupais em plena sincronia entre tais e também no ritmo musical, envolvendo exercícios complexos presentes em outras ginásticas como acrobacias, saltos, bem como manipulação de vários objetos e também elementos dançantes, tudo regido por uma coreografia marcada e compactada dentro do tempo e da métrica musical. Mas se olharmos a GR de forma livre e menos complexa perceberemos, em uma única modalidade, a junção de muitos exercícios extremamente significantes para o desenvolvimento das crianças de segunda infância. Alonso (2004) apud Caçola (2007) afirma que a GR é privilegiada por possuir habilidades motoras muito próximas da cultura corporal encontradas nos jogos infantis sendo praticados desde a primeira infância.
Tibeau (1988) apud Caçola (2007) afirma que a GR é composta por três elementos básicos que são os movimentos corporais, manuseio de materiais e acompanhamento musical. Assim como mencionado anteriormente, a forma tradicional de ensino da GR se dá pelo chamado trabalho de mãos livres, onde o processo ocorre de forma analítica, assim como na maioria das iniciações esportivas, mas em estudos de Tibeau (1988), Caçola, Ladewig e Rodacki (2004) e Caçola (2006) afirmam a eficácia do método global, onde desde o início as crianças já trabalham manipulando os objetos junto aos movimentos corporais, não buscando a especificidade técnica de cada movimento, onde de forma tradicional se busca primeiramente a perfeição da execução do movimento corporal, para posteriormente introduzir os elementos manipulativos, verificando que em estudos as ginastas afirmam que o método analítico é mais difícil, pois inicialmente o exercício tem melhor execução, porém com o acrescimento do objeto há necessidade de um recomeço diferentemente do trabalho global que além de ser mais motivador, apesar das dificuldades iniciais posteriormente é melhor executado devido ao grau de interação do indivíduo com o objeto, podendo resultar em um menor tempo de aprendizagem e tornando-se mais eficiente e duradouro, retendo os movimentos. O método global busca como se realiza a aprendizagem, e não os resultados imediatos, sabendo que esse método é bem mais extenso do que o analítico. Alonso (2004) afirma a importância de manipular diversos elementos da ginástica, não esperando o domínio de um objeto para partir para outro. É importante buscar as formas adequadas de trabalhar a GR na iniciação, pois a maioria dos estudos centraliza-se no desempenho.
Gaio (1996) apud Caçola (2007) demonstra a GR de forma mais “popular” considera como princípios básicos: utilização de aparelhos, mas não de forma oficial e tampouco a realização de movimentos obrigatórios, onde podem surgir de forma espontânea e criativa; permitir que as crianças explorem o corpo em movimentos no solo ou no alto (pré-acrobáticos); fazer com que dentre as características da GR as crianças vivam o lúdico de cada exercício; e por fim trabalhar e explorar o ritmo na tarefa. O uso de dicas aplicadas pelo professor, como um feedback de instrução também é extremamente pertinente para a aprendizagem da GR. Pereira (2003) apud Caçola (2007) afirma que na faixa etária de 7 a 10 anos, a GR tem que ser aplicada mantendo suas finalidades, porém em movimentos variados, onde se busca a finalidade de expressão própria nas aulas propostas, onde se obtém melhores resultados de variáveis motoras.
Ginástica Rítmica
A GR trabalha com materiais como bola, corda, fita, massa e arco, mas nas nossas aulas nos valemos apenas da utilização das bolas e dos arcos. Apesar de uma modalidade feminina (como esporte de alto rendimento) trabalhamos também com meninos, pois no contexto escolar entendemos que não deve ocorrer essa separação, principalmente porque os exercícios promovem benefícios a ambos os gêneros. Apesar da desatenção característica da faixa etária, Caçola e Ladewing (2005) apud Machado e Ferreira Filho (2010) afirmam que a fase ideal para início da GR é com 6 anos onde os movimentos fundamentais já estão maduros, porém nos deparamos com uma situação surpreendente do qual nossos alunos (que possuem mais de seis anos) não tinham a habilidade de realizar movimentos básicos, como o rolamento, o que modificou todo o foco da tarefa.
A flexibilidade é uma capacidade física, que como o próprio nome já diz, é uma capacidade, ou seja, própria do ser humano (Schimdt e Wrisberg, 2001), mas como sabemos essa capacidade se não treinada diminui ao longo da maturação, onde se tem um grande declínio na fase da puberdade. Portanto, é extremamente importante o trabalho com tal capacidade, principalmente quando nos referimos a GR e também a GACRO, que necessita da flexibilidade como fator contribuinte para a melhor execução dos exercícios, pois muitas vezes necessita-se de amplitude, característica da flexibilidade. Farias Junior e Barros afirmam que:
[...] a flexibilidade é a resultante da capacidade de elasticidade demonstrada pelos músculos e tecidos conectivos, combinados à mobilidade articular, com isso, a manutenção de uma boa elasticidade do tecido muscular e cognitivo poderá garantir a manutenção de níveis desejados de flexibilidade.
(Farias Junior e Barros, 2007 apud Machado e Ferreira Filho, 2010).
O treino da flexibilidade deve solicitar que as articulações dos alunos tenham uma amplitude pouco acima do habitual respeitando seus limites. Além do trabalho dessa capacidade física, a GR proporciona o envolvimento com outros fatores como espaço, tempo, ritmo, objeto e pessoas. Segundo Machado e Ferreira Filho (2010) a GR visa o desenvolvimento neuromuscular onde as crianças desenvolvem a chamada “mentalidade rítmica”, onde atrela a criação de um ritmo musical em coordenação com o movimento e relação com o espaço. Domingues e Santos (2006) afirmam que o uso dos aparelhos, tem grande importância para o desenvolvimento psicomotor, como lateralidade, percepção espacial, temporal, dinamismo, criatividade e expressão corporal, segurança e confiabilidade. Assim como afirmam os autores, trabalhamos com exercícios que atrelassem saltos, giros, equilíbrios, lançamentos e recuperação de objetos entre outras coisas concernentes a GR, trabalhados no método global. Pesquisa realizada por Machado e Ferreira Filho (2010) afirma que ao longo de dois meses (tempo da pesquisa) onde foi aplicada iniciação de GR em uma escola, obteve-se melhora no desenvolvimento da coordenação motora, lateralidade, percepção corporal, equilíbrio e estabilização além da melhoria do manuseio e da coordenação de movimentos juntos aos aparelhos, onde nenhum aluno tinha vivência pré com a GR, mas aprenderam e se desenvolveram tão significativamente que alguns alunos se interessaram em seguir a prática ao término da pesquisa (informações textuais e em gráficos contidos no artigo original).
Gaio (2007) afirma que a formação da consciência corporal que pode vir da prática de GR promove a formação da criança e suas possibilidades de expressão perante o mundo, assim como na constituição de percepção espacial faz com que aprenda se localizar no espaço bem como perceber os objetos e as outras pessoas no espaço. A noção temporal faz com que os alunos se situem no tempo de ação individual e coletiva de acordo com o ambiente.
Segundo o artigo de Colaço, Silva e Fernandes (2004) a GR favorece inúmeras experiências, tanto na formação motora (equilíbrio, coordenação, ritmo, agilidade), quanto na formação perceptiva motora (espaço, tempo, corpo):
Formação Motora:
· Equilíbrio: O equilíbrio está presente em tarefas dinâmicas como os giros, saltos e em tarefas estáticas como no trabalho de manipulação de objetos e equilibração do aparelho, sendo que utilizamos de ambas as formas em nossas aulas;
· Coordenação: Na geral estão os movimentos de saltos, corridas, flexibilidade, entre outros. Já na coordenação óculo visual e óculo manual os exercícios que atrelam movimentos corporais com atenção nos aparelhos em atividades simultâneas;
· Ritmo: No trabalho com a música ou contagens com ou sem aparelhos;
· Agilidade: Tempo de reação e agilidade para cumprir as problemáticas dos exercícios.
Formação Perceptiva motora:
· Espaço: Consciência espacial para a realização de cada exercício, relacionando-se com o espaço do seu corpo e objeto no espaço;
· Tempo: Lançamentos, trocas, rolamentos, elementos com manejo de aparelhos individual e em conjunto;
· Próprio corpo: Consciência corporal, bilateralidade, lateralidade, entre outras. (Pires, 2002).